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AQUELE PEDAÇO DE PANO…

Os homens utilizavam cintas ou faixas enroladas à cintura principalmente por razões funcionais e simbólicas, como para sustentar o vestuário pesado (no contexto militar, para segurar a espada ou outros equipamentos), para definir a silhueta (criando uma figura com ombros largos e peitoral elevado) ou ainda como símbolos de poder e status, dependendo da cultura e do período histórico.
Nas suas funções práticas e militares serviram para a sustentação de equipamentos, para ajudarem a manter as fardas no lugar, mas as cintas externas também serviram por cá, até meados do século passado, como apoio e proteção de toda a zona pélvica principalmente em actividades rurais que implicavam muito esforço físico, uso de muita força.
Como peça de vestuário, em algumas épocas, cintas ou faixas foram usadas para suportar as vestes, principalmente se estas fossem pesadas, mas também tinham funções de estética, porque moldavam o corpo, e até houve épocas em que ganharam estatuto de acessório de moda.
Também lhes podemos encontrar significados culturais e simbólicos associados ao poder e autoridade. E até a sua deposição pode significar a renúncia a um cargo. 
Em algumas culturas, como nas artes marciais, a cor do cinto indica o nível de habilidade ou hierarquia de uma pessoa. 
Em países como a Índia, rituais há em que uma faixa enrolada na cintura simboliza proteção e purificação para os jovens.
Na minha região, quando a capacidade financeira para a aquisição de alianças de casamento não era transversal a toda a sociedade, os homens, que não tinham dinheiro para anéis de ouro, mudavam o lado para onde pendiam as franjas da cinta, para assim exteriorizar a sua mudança de estado civil.
As faixas e cintas têm uma longa história, que remonta à era pré-histórica, e sua função e significado evoluíram ao longo do tempo.
Como a farda da Moços de Forcado é uma reminiscência de um fardamento militar, ( por isso não ouvimos os Moços dizer que se trajam mas sim que se fardam!), também inclui uma cinta.
Uma faixa de pano encarnado, que, com mestria, é cuidadosamente enrolada ao corpo do Moço de Forcado, e que lhe protege a zona abdominal tanto quanto possível.
O momento da fardação tem muito de mágico e muito mais de simbolismos. O Cabo verbalizou previamente quem escolheu para aquele compromisso, e assim começa a contagem decrescente para os eleitos.
A jaqueta é o seu símbolo maior, na verdade é a única coisa que distingue os Grupos uns dos outros, mas o momento de colocar a cinta é um detalhe que tem consigo a especial envolvência da força de dois no objetivo da proteção de um.
Chegado o momento em que se decide colocar a cinta, é pedida colaboração de um Moço experiente que terá a missão de, com firmeza, segurar uma das extremidades do pedaço de pano encarnado. Inicia-se então um processo de, com a cinta esticada no seu cumprimento máximo, o Moço de Forcado se ir enrolando na cinta, rodopiando sobre si próprio, e ajustando o mais possível aquela faixa ao seu corpo.
Num movimento de baile sobe o próprio eixo, a cinta vai “desaparecendo” do espaço no vazio para se aninhar num corpo que a recebe como quem veste uma armadura.
Só o romantismo de um Forcado Amador para fazer de um pedaço de pano o escudo de defesa perante a bravura de um animal que lhe é, em força, oito vezes superior!!

 

Texto por: Fernanda Maria Branco Mouzinho
Fotografia por Tomás Carvalho

 

 

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